29 abril, 2012

Subproduto de Rock - Conto (Parte I)


Mamãe, tá certo
eu me dei mal na escola.

Isso acontece,
mês que vem eu melhoro.
Mamãe, tá certo eu pisei na bola,
quebrei vidraça,
fiz a maior pirraça.
Mamãe, tá certo
eu fui pro fundo e não pode.
O mar tá bravo, que bode!

João acordou. Encarou o relógio que lhe dizia "Está cedo demais!", o sol forte queimando o velho tapete do quarto. Na verdade, tudo no quarto era velho, até João. Ele continuou encarando o relógio até notar algo estranho. Inerte. Era evidente que fosse mais tarde, até João estranhara ter acordado há essa hora, tão cedo para João. Virou de lado e dormiu.

“João, levanta dessa cama menino” entrou gritando a mãe. Desesperada que só. Coitada, tanto lutara para que o filho se tornasse médico ou advogado, mas João não queria. O sonho de João era cantar. Viver de música; ser líder de banda de rock. Mas rock era o pesadelo da mãe, que não conseguia compreender como o filho gostava daquela barulheira toda e suas letras ruins.

“Mãe, ainda é muito cedo, olha o Sol” rebatia João, fazendo a mãe explodir de raiva.

“Meu filho, você faltou à faculdade mais uma vez só essa semana. Seu pai tá perto de perder os poucos cabelos que tem de preocupação, eu já nem durmo, o que vou fazer com você?”. João pareceu não se importar. Olhou a redor, e vendo que ela não sairia dali até que respondesse, disse:

—Dona Amélia, já lhe disse tantas vezes que médico eu nunca serei, por que não tirar essa ideia fixa da mente? Cantor, esse é meu sonho.
Irredutível como João.
— Deixe de papo furado menino, e levanta que já é tarde — saiu batendo o pé.

João levantou. Procurou pelo velho disco de Led Zeppelin, mas a bagunça era tanta que não encontrou. Só desistiu de procurar porque achou um melhor, teu preferido, Rolling Stones. Era um disco velho de capa surrada, tinha ganhado do pai no dia que passou no vestibular. Se seu pai soubesse que desistiria tão fácil da carreira acadêmica, é provável que presentes como esse ele não houvesse ganhado.

Ligou o som, no maior volume, e pôs a voz rouca a cantar. Ah, como era prazeroso. Por mais que não apoiasse a vontade do filho, a mão de João nunca poderia negar que ele tivesse talento. E isso ele tinha. 

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